#13 | Carnaval no Botequim
Poesia atribuída a Casimiro de Abreu feita para Botequim do Braguinha
Olá a todos, como vão por aí? Por aqui — alguns já sabem — estou numa correria só por conta da mudança de firma. Pra quem não sabe: depois de mais de uma década, faço parte do Museu do Café e agora integro a Pesquisa do Museu da Imigração.
Mas calma! Não vou deixar de escrever a newsletter nem deixarei de falar sobre os Cafés, Botequins e tudo mais por aqui. Só preciso de um tempinho pra ajeitar a casa e voltar a escrever com regularidade.
Pra não deixar essa semana em branco, vou deixar pra vocês um poema/propaganda pro Botequim da Fama do Café Com Leite atribuído a Capistrano de Abreu de 1858.
O Botequim da Fama (ou Café do Braguinha) foi um dos mais famosos da década de 1840-70 e eu já falei dele algumas vezes por aqui (inclusive já indiquei o ótimo artigo do amigo Almir El-Kareh, As Artimanhas do Braguinha).
Esse Botequim era famoso por anúncios em versos que eram publicados nos vários jornais do Rio de Janeiro, principalmente na década de 1850. A maioria eram versinhos bem bobinhos, simples, e atribuídos ao próprio dono, o português José de Souza e Silva Braga.
Neles, o autor geralmente chamava os leitores à beber a “afamada xi’crinha” de café com leite, que era boa pra espantar o tédio, mas também era entendida como boa pra saúde. Chamava também as famílias (as senhorinhas e senhoras) para uma taça de sorvete, principalmente nas épocas de calor como essa agora.
Esse poema que eu deixo aqui a seguir tem tudo isso, mas apesar de ser um “reclame” do botequim, é bem mais longo e tem um estilo bem mais rebuscado. A assinatura “C.A.” fez com que alguns memorialistas sugerissem que fosse de Casimiro de Abreu.
Seja de Casimiro ou seja de um anônimo, vale a leitura!
Correio Mercantil (RJ). 16 fev. 1858, p.2. Acervo Biblioteca Nacional.
Offerecido e dedicado
Á FAMA DO CAFÉ COM LEITE
em attenção á despedida do carnaval,
Por C.A.
(Amphigury)
Durante a folia,
Quer ria,
Quer chore,
Quer córe;
Donzella ou menina,
Quieta ou traquina,
É bom vir á Fama
Beber bom café
Com leite,
Sem leite,
Que febre amarella
Não cai na esparrela
De entrar cá na Fama:
E assim sem receio
Tão bello recreio
Bem póde gozar,
Tranquilla,
Contente,
Que á gente
A cuja não hia.
E o moço,
E o velho,
O homem do povo,
O homem fidalgo,
O rico,
O plebeu,
Tomando um almoço
Da Fama afamada
Não podem ter medo.
No bom carnaval
Encantos não acha
Quem hoje não passa
Na Fama um momento;
Estala,
Regala.
Os olhos queimados,
Os que, desgraçados,
Á Fama não vem;
Que a Fama só tem
Remedio infallivel,
Sympathico, incrivel,
Que cura os calores,
E extingue os rigores
Do fogo lethal
Do máo carnaval:
Só ella
Congela.
O sangue aquecido
Na lucta das [ilegível]
Só ella os rigores
Extingue da sorte,
E abate da morte
O horrivel poder
Ah! venhão fregueses!
E venhão depressa
Que aqui não se prega
Nem logro, nem peça.
Querendo sorvete,
Sorvete hão de achar;
Sorvete tão frio
Que os ha de esfriar.
Querendo café,
Tal como elle é,
Mui puro, mui bom.
Ah! venhão á Fama
Que aqui só se chama
Quem é do bom tom,
O Braga cá está;
Pois venham p’ra cá,
Mas tragão dinheiro,
Que o Braga
Não paga
Sem elle o café,
Que a Fama
Só chama
Quem a boa fé
Não sabe iludir.
Pois venhão, fregueses,
Pois venhão freguezas,
Que ha muitas mesas,
E ha muito café,
Ha muito sorvete,
Ha muito refresco,
Com muita abundancia,
Com muita elegancia.
C.A.
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Um pouco mais sobre mim
Sou doutor em História pela PUC-SP e defendi minha tese em 2022. Também sou músico nas horas vagas e fiz um disco que é quase uma trilha-sonora pra Santos, minha cidade natal. Se quiser ler meus textos acadêmicos, reúno eles aqui.